Hoje esteve na nossa Biblioteca o actor, declamador, autor, cantor...Afonso Dias.
Declamou poemas de Fernando Pessoa, Sophia de Mello Breyner, Miguel Torga, Cecília Meireles, Manuel Bandeira e muitos outros. Cantou, também, canções de Zeca Afonso.
Integrada no projecto "A Poesia está na Escola" esta sessão foi destinada a alunos do 7º e 8º anos e estiveram presentes as turmas 8ºE e 7ºE...e outras tantas turmas curiosas do 2ºciclo que assistiram com muito interesse.
Fica aqui, como pequena amostra, um dos poemas apresentados, aquele que mais gargalhadas provocou:
O Pato Anacleto
Já ouviram falar
com certeza do pato Anacleto,
um pato que sofria do flato
e tinha um caracol no recto.
Este pato veio do mato
e passava o dia quieto,
ali junto ao coreto.
Lembram-se com certeza.
O pato Anacleto
não tinha olfacto
e mal via um espeto ficava sorumbático
por ver um pato espetado
junto ao caracol do recto.
Um dia o pato Anacleto
subiu ao coreto
e tocou no contrabaixo,
lá em cima ou cá em baixo.
Sei que um dos de cima
ficou cabisbaixo
por tocarem o contrabaixo
cá em cima,
e um dos de baixo
ficou muito contra
por tocarem cá em baixo
o contra-cima.
Em suma, ou em cima,
um desgosto para o Anacleto,
pois o expulsaram do coreto.
E o que lhe valeu
foi o contrabaixo
que estava ali a jeito.
E como o pato tem penas
eu tive pena do pato.
Este pato Anacleto
gostava muito de arroz;
era filho de um sapateiro pato
e mais da pata que o pôs.
Viviam no mato
sempre aflitos
porque o sapateiro pato
fazia gato sapato;
sapato com pele de gato
e de gatos mui raquíticos,
gatos que sofriam do flato
como o pato Anacleto.
Uma noite quando o pato
ia para a telescola,
ou para a telepatia,
quis agarrar uma gata
que andava por ali perto,
caiu e partiu a pata.
Ficou tão circunspecto
que chamou o veterinário
e este, ao vê-lo,
disse mesmo ao Anacleto:
"O melhor é comê-lo".
O pobre ficou boquiaberto
por se imaginar sem penas,
nuzinho a assar no espeto...
Agarrou-se ao patafone,
chamou o 115
que o levou ao banco.
Depois de muito esperar
deu entrada na enfermaria de patologia.
Ficou ali um dia.
Tiraram-lhe as impressões patais
e transitou para cirurgia,
secção de ortopatia.
Aqui o Anacleto
ficou de bico aberto;
gaguejava, quaquava, pedia:
"Ponham-me um pato sapato,
ou façam-me uma enxertia,
porque qualquer bicho
pode andar sem pata,
agora um pato com côto,
ficou mesmo um aborto.
E não esta mancopatia".
No entanto,
a opinião do cirurgião
era uma transpatação.
E quando os pais do pato
entraram na enfermaria
e viram o Anacleto
a mancar da pata
e com o bico aberto,
a mãe pata virou patachoca,
virando posta restante
dentro da mala-posta.
E o pai com a mulher patachoca
e o filho com a pata partida
exclamava:
"Oh que pata de vida!!!"
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